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ão vinte anos de maçonaria e pouca coisa tem me surpreendido no dia a dia de nossa
Ordem, mas um fato, que não chega a ser novidade, me assustou e custo a
acreditar que possa continuar ou mesmo se estender: a censura.
Censurar
a imprensa, é coibir a liberdade de expressão.
É não pregar a igualdade de
valores. E para nós, quando o fato
acontece por meio de outros irmãos, é também ir contra o espírito fraterno que
deveria nortear os passos de qualquer maçom.
Não
há que se falar em democracia, se a imprensa não for e não se
sentir verdadeiramente livre, sem mordaças, com a garantia de poder se
expressar sem censura, ameaças, pressões ou mesmo violências. E infelizmente quando lemos num texto de
nosso Irmão Jaciré Braga, frases fortes e diretas, como “não vamos parar de
circular”, “calar nesse momento significa aceitar o fim da verdade maçônica” e
“não vamos calar a nossa voz”, muito me preocupa o que tanto o transtornou, ou melhor,
“quem o proibiu de que?”
Não por acaso, veio à minha mente uma
das expressões de liberdade mais forte que conheço: NINGUÉM MONTARÁ EM CIMA
DE NÓS SE NÃO NOS CURVARMOS, dita por Martin Luther King, consagrado como um
dos maiores ícones na incessante luta pela liberdade e igualdade. Sua mensagem vai de encontro com nossa
Constituição, que contempla como poucos países do
mundo, a plena liberdade de imprensa no país, como é possível observar no texto
de seu art. 220, ou seja, "a manifestação do pensamento, a criação,
a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não
sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição",
sendo que em seu parágrafo primeiro complementa: "nenhuma lei conterá
dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação
jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no
art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV". É o direito de ser informado e também o direito de querer
informar, fato que estamos tentando fazer e que esperamos possa ser “liberado
pra publicação”.
As
palavras de Braga foram em relação a um texto do Irmão Newton de Alcântara
Filho, que comentava sobre a existência de inúmeras Lojas que sobrevivem pela
teimosia de alguns abnegados irmãos, que por um motivo ou outro, ajudaram a
cria-las, ao lado de dezenas de irmãos que assinaram a relação de fundadores, e
que depois nunca mais voltaram, principalmente os tradicionais irmãos de Altos
Cargos. E censura-lo é apenas tentar tampar o sol com a peneira.
Participar do quadro de diversas Lojas
não pode ser visto como solução para a manutenção de inúmeras pequenas Lojas.
De outra forma, a ausência de um patrimônio sustentável, de um quadro fixo de
obreiros capaz de fazê-las funcionar sem a colaboração de terceiros, assim como
a valorização de motivos fúteis para manutenção de sua existência, somente pode
interessar a aqueles que erradamente vislumbram com o aumento no número de
Lojas, o que nada acrescenta aos trabalhos maçônicos, a não ser uma fictícia
demonstração de expansão da Maçonaria, que assim cresce em número de Lojas, mas
não em número de obreiros e muito menos na qualidade desejada.
O texto do Irmão Newton, proclama a manutenção
de Lojas fortes, autônomas e parceiras, sem imposições externas, desejo
incontestável da maioria dos obreiros, e chama também a atenção de que não
devemos viver das glórias do passado, e que temos que aprender a pedir
desculpas e reconhecer nossos erros. Então
por que haveria de se proibir a divulgação de tais idéias? Nos parece um resquício de outras épocas em
que se valorizava em demasia o “status” de ser maçom.
Na verdade, o texto tem uma mensagem
de verdade, e que tal situação é uma clara mensagem de que nossa maior necessidade
é o fortalecimento da Ordem, com crescimento consciente, e unidos cada vez
mais. E para tanto se faz necessário a humildade em nossas atitudes, buscar integração
com a sociedade e valorizar a participação de cada um, sabendo distribuir
funções e cobrando resultados.
Por outro lado, há que se temer e
evitar que idéias retrógadas de censura possam tomar força material e alcançar a
Ordem que prega a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, valores desejados e
batalhados pelo homem em toda a sua história.
Diria Jean-Paul Sartre: “para conhecer os homens, torna-se
indispensável vê-los agir” e somente com a divulgação de seus feitos, de forma
honesta e correta, com a plena liberdade de expressão, conseguiremos conhecer
as atitudes e as ações de cada um, para que dessa forma possamos até mesmo
julga-los, se assim for necessário.
Aos
irmãos Braga e Newton, meu apoio, meu carinho e o reconhecimento pela proposta
de um trabalho em prol da Maçonaria e da liberdade de expressão, a “rainha das
liberdades”, como nos disse Rui Barbosa.
(Texto de mar/2006)
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