sábado, 5 de novembro de 2016

As Influências do Passado, no Presente e no Futuro da Maçonaria




T
ema de grande interesse, tanto dentro quanto fora da Maçonaria. De muitas vertentes, seria possível uma visão social, ou política, ou mesmo apenas histórica, mas todas numa só direção, ou seja, tudo que a Maçonaria representa hoje, no presente, é consequência direta das diversas influências do passado e que certamente servirão de base, de alicerce, para direcionar o futuro da Ordem.

Diante de tantos caminhos, entendemos que as influências, de uma maneira em geral, se expressam pelos pilares da Força, da Sabedoria e dos Metais. A beleza poderia ser um outro pilar, no entanto ela se confunde com o objetivo das ações, pois é certo que sempre buscamos na perfeição uma obra bem acabada, de certa beleza, e de acordo com os ensinamentos recebidos.

Um exemplo bem prático poderia ser a relação da Maçonaria com a Religião. No passado, a base para os primeiros ritos maçônicos foram claramente pinçados nas referências bíblicas. E destacamos alguns dentre os mais interessantes:
  • ·     Do Livro 1 de Reis, 7, 13-14, veio a expressão de que os “maçons são os filhos da viúva”.
13  E enviou o rei Salomão um mensageiro e mandou trazer a Hirão de Tiro.
14 Era ele filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali, e fora seu pai um homem de Tiro, que trabalhava em cobre; e era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência para fazer toda a obra de cobre; este veio ao rei Salomão, e fez toda a sua obra.
  • ·     As colunas do templo foram nomeadas também de acordo com o Livro 1 dos Reis (1 Reis, 7, 21).
21 Depois levantou as colunas no pórtico do templo; e levantando a coluna direita, pôs-lhe o nome de Jaquim; e levantando a coluna esquerda, pôs-lhe o nome de Boaz.
  • ·     Catedrais, castelos e fortificações, construídos na Idade Média por maçons operários, com a orientação de seus mestres, são admirados até os dias de hoje pela força e a beleza de suas linhas arquitetônicas.

Independente das passagens bíblicas, é inegável que a origem da Maçonaria tem uma ligação direta com os Templários, conhecidos como “Os Pobres Cavaleiros de Cristo”, uma ordem militar criada para proteger os peregrinos que seguiam para a Terra Santa mas que com esse intuito, se tornaram poderosos, cada vez mais ricos e independentes, o que gerou a perseguição de reis e da própria Igreja, obrigando-os a se esconderem em sociedades secretas, como a própria Maçonaria.

Força, para construir bem feito o que deve ser feito. Sabedoria, para interpretar livros, plantas de construção, e definir ações, reações e/ou interações junto ao grupo de iniciados e a própria Sociedade. E claro, os metais, necessários para a construção das obras em geral.

Tais influências, de um passado remoto, seguiram firmes até o passado mais recente e foram fundamentais para o desenvolvimento dos trabalhos da Ordem nos dias de hoje. Não temos como negar que tudo que hoje desenvolvemos e praticamos serão as influências para o futuro que se apresenta, cujo objetivo principal é possível resumir na busca incessante de uma sociedade mais justa, menos desumana, menos desigual, construída com sabedoria e o uso adequado dos metais, principalmente sem a mancha da corrupção, mal  que busca o desvio de conduta do homem em todas as áreas.

Ainda sobre a Religião, e sua grande influência na Maçonaria até um passado recente, é possível constatarmos que hoje, em nosso presente, a Maçonaria se encontra mais distante, embora alguns ritos continuem com passagens que remontam à religiosidade.

É evidente que diversos fatores fizeram com que esse afastamento ocorresse, no entanto consideramos que este seja um tema bem mais amplo do que o proposto para nossa dissertação. E apenas para mais uma vez exemplificarmos, na história da Maçonaria recente é possível a constatação de manifestações agressivas contra a Ordem por parte de religiosos, independentes de seitas, e muitas das vezes sem um motivo aparente. Por que será? De onde vieram as influências que levaram a esse afastamento?

Em relação às igrejas católicas, o tema é antigo, e trás até os dias de hoje dúvidas não totalmente esclarecidas, se a Maçonaria tenha recebido apenas influências ou se fora uma criação de religiosos com a ideia de agirem de forma independente do domínio da Igreja e principalmente do poder dos Papas.

O afastamento da Igreja vem desde o Papa Clemente XII, e válido até os dias de hoje, que em 1738 proíbe a adesão dos fiéis à Maçonaria ou associações maçônicas, ratificado em outras oportunidades, inclusive no novo Código de Direito Canônico, de 1983, que expressa, sem uma indicação direta, que "Quem se inscreve em alguma associação que conspira contra a Igreja, seja punido com justa pena; e quem promove ou dirige uma dessas associações, seja punido com interdito", e a Maçonaria é considerada uma destas "associações que conspiram contra a Igreja".

Outras igrejas, como as evangélicas, não possuem um pensamento comum, mas ressalta-se que as mais poderosas seguem o pensamento de que existe uma oposição de doutrinas entre as religiões e a Maçonaria. No mesmo caminho encontramos os metodistas, anglicanos, luteranos e cristãos ortodoxos.

Diante dos fatos é possível enxergar que dificilmente haverá uma verdadeira conciliação entre a Maçonaria e a Igreja e consequentemente a influência religiosa tende também a se afastar dos movimentos da Ordem.

Poderíamos dizer que o conflito de interesses é uma das causas mais aparentes. A liberdade de ingresso na Ordem, onde se busca o sectarismo político, racial e religioso e pressupõe a existência de apenas um princípio criador, que denominamos de Grande Arquiteto do Universo, vai de encontro com as religiões que invocam o nome de Deus e de santos, quando é o caso. E é evidente que tal situação é uma via dupla de informações, onde iniciados, também religiosos, certamente carregariam, ou carregam, para suas igrejas a posição de liberdade religiosa, que certamente não combina com a filosofia da maioria dos ritos praticados.

E seguindo o exemplo da religião como uma das influências na Ordem, o que esperamos para o futuro? A religião tende a ser mais ou menos influente na Maçonaria?

Como posição pessoal, vejo que a informação mais rápida e a facilidade das pesquisas, nos leva certamente á mudanças. A religião encontra-se mais pulverizada, mais dividida e as mais fortes dificilmente aceitarão dividir seus fiéis com outras “seitas”, e para eles a Maçonaria ainda é uma das mais fortes e apesar de toda a divulgação existente, será apresentada como uma religião disfarçada, uma seita secreta, satânica, conspiradora contra todas as igrejas e quem nela ingressar será excomungado.

Por outro lado, dificilmente a Maçonaria irá se afastar da essência de seus ritos, mesmo aqueles mais novos, normalmente criados em cima de uma base histórica, com as passagens religiosas mantidas, e apenas incluídas algumas voltadas normalmente para valorização do sentimento pátrio.

Em resumo, as influências de hoje para o futuro, certamente levará a Maçonaria a ser mais racional, sem perder sua essência de aperfeiçoamento constante do templo interior do homem (o seu eu) assim como da necessária atuação pela melhora da sociedade em geral. 

Deverá estar preparada para respostas mais ágeis às informações deturpadas a respeito da Ordem e uma necessária e imprescindível expansão de seus quadros, sem a qual dificilmente conseguirá desenvolver seu trabalho benemérito, o que a deixará cada vez mais afastada do mundo profano.

E para que não saia dessa linha de ação, deverá usar a FORÇA de seus valores, a SABEDORIA para saber agir e os METAIS para atender aos propósitos a que se propõe.


(texto apresentado na Acad.'. Nit.'. Mac.'. em  29/10/2016)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

O Whisky: um Rito Escocês Antigo… e muito bem aceito



A
 quando remonta a invenção do uisge beatha, a aqua vita em gaélico escocês? Alguns afirmam que foram monges vindos do Egito, que teriam trazido os primeiros alambiques de perfume e que teriam desenvolvido o uso que se conhece na Irlanda, e na Escócia a partir do século XII.

Daí uma controvérsia que não acaba nunca entre os partidários de uma origem escocesa ou irlandesa para esta bebida forte em o mundo inteiro conhece sob o nome de uísque. Como todas as aguardentes, esta tem origem na destilação de um açúcar fermentado. No presente caso, é do amido contido nos grãos trigo, cevada, centeio. Ou milho para bourbon. Para aqueles de procedência tradicional escocesa, a base é a cevada maltada, isto é, germinadas e assada em fogo de turfa. É aqui que o apelido de aguardente faz sentido. Porque dependendo se o malte foi mais ou menos exposto à fumaça, ele terá o sabor turfoso, que pode variar de mais suave a mais picante de acordo com a experiência própria de cada destilador. Em seguida, o malte é moído, misturado com a água de alta qualidade, depois deixado fermentar até que se obtém um tipo de cerveja que será destilada continuamente em grandes alambiques de cobre.

Na Escócia existem quatro regiões produtoras: as terras altas que produzem uísques robustos de renome, o vale do rio Spey (Speyside), onde as aguardentes são mais refinadas, os Lowlands de qualidade intermediária e as ilhas do oeste, principalmente Islay, que tem nada menos que oito destilarias produtoras de espíritos aos quais o clima oceânico traz uma qualidade de envelhecimento em barris incomparável.

Os uísques se dividem também entre maltes puros de uma única destilaria e misturas ou blends, resultantes de uma combinação de diferentes maltes. Mas existe também os barris únicos, peças raras de um único barril de uma mesma destilaria. Em resumo, as nuances de whisky são tão ricas, complexas e paradoxais quanto as do rito escocês que mesmo nas suas diferentes formações nada tem a ver com a Escócia … embora muitos maçons escoceses que comparecem às sessões vestidos em seus kilts, assim como fazem na França alguns adeptos do Padrão da Escócia.

Esta paixão pelo rito escocês em sua forma espiritual, tanto quanto o espírito se concretizou em 2014 com a Confraria dos Cavaleiros do Malte e da Música, membro da Federação do Círculo Europeu das Fraternais e correspondendo aos mesmos critérios de adesão. Em um espírito amigável e fraterno, ali se pratica, como o próprio nome sugere, o amor ao malte, puro, bem como aos blends e à música. Degustações seguidas de banquetes são realizadas regularmente, bem como concertos na França e no estrangeiro. Trata-se de cultivar o palato, tanto quanto o ouvido. A associação também distribui seu próprio blend da marca Sword (espada dos cavaleiros), um Speyside categoria premium, de uma bela cor âmbar, envelhecido em antigos barris de xerez e considerado como tendo uma personalidade “feminina”. Assim a maçonaria mista, por vezes, assume caminhos tão calorosos quanto inesperado.




Tradução José Filardo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Não nos amedronta a morte

“Não nos amedronta a morte! E mesmo diante da tumba, sempre haverá um Irmão a oferecer consolo. E se todos, friamente, nos abandonarem, por compaixão, um Irmão cerrará nossos olhos, E quando o espectro da morte se aproximar, o ouvido há de perceber, com sua suavidade, a intimidade familiar do “Tu”, E o amor fraternal jogará sobre nosso esquife os primeiros punhados de terra e nos almejará uma Boa Viagem e uma Aurora de Luz. Não nos amedronta a morte!”

De acordo com a ritualística de nossa Ordem, ao Mestre é pressuposto que tenha alcançado a maior perfeição no exercício de todas as virtudes. Que seu coração seja recheado de pureza e que suas palavras transmitam sempre a verdade. Que a prudência domine suas ações e que tenha coragem diante dos males inevitáveis. E que acima de tudo prevaleça a prática do bem, sem desvio do Dever, da Vontade e da Justiça.

Em seu último trajeto, para alcançar este mais elevado grau, a imagem da morte é lembrada e repassada em toda a caminhada por uma frase implacável e inflexível: “Lembrai-vos da Morte”. Esse caminho coloca o Mestre Maçom frente a frente com o conceito limitador de toda a aspiração humana, o “conceito da morte”, que pode surpreender e cortar as aspirações terrenas a qualquer momento.

Lembra ainda o Ritual, que o Mestre Maçom nunca deve deixar de buscar o conhecimento de a si próprio e que deve estar sempre preparado para enfrentar a própria morte. E nós, eu e meu irmão de sangue, t

ambém como Mestres Maçons, não podemos deixar de pensar de como tudo isso se encaixa na trajetória de nosso pai, nosso Mestre Byrão. Ele, com passos firmes e de forma serena, cumpriu todas as suas etapas, tanto na vida profana quanto na vida maçônica.

Como homem, de uma vida simples do interior, venceu no estudo, na profissão, e gerou uma família, que até seus últimos momentos a mantinha sob sua guarda, carinho e proteção. Chegou ao ápice de sua carreira profissional com glórias e reconhecimentos. E na Ordem, que tanto adorava, em cada oportunidade, com o dom de suas palavras, deixava claro que tinha cumprido com rigor toda sua trajetória em busca da perfeição de suas virtudes.

Fazia valer as atitudes do homem em todas as suas atividades. A verdade, mesmo que em momentos difíceis, sabia contornar para que não viessem tão ama
rgas. Tinha o dom de saber dizê-las na forma e no conteúdo apropriado. E quando pai, avô e bisavô, seu coração não resistia em transbordar de uma pureza indescritível.

Como um perfeito Mestre, abusava da prudência em suas ações e não se furtava diante do inevitável. Com toda a certeza, prudência e coragem, foram as mais importantes virtudes ao longo de sua trajetória. Imprescindíveis numa vida, que desde a tenra idade,  foi recheada de desafios, de altos e baixos, mas sem nunca ter se furtado de tomar a frente e o comando, e que ao longo de seus 86 anos, sagrou-se como vencedor na maior parte de suas batalhas.

“A maçonaria é perfeita, os homens não”, era uma frase por ele sempre utilizada, principalmente quando nos desvios ocorridos entre os Irmãos. Em suas palavras ficava claro que a Ordem foi criada voltada para a prática do bem, e que o Irmão não poderia, de maneira alguma, desviar de seus deveres, definidos pela justiça criada pela vontade dos homens e sob os olhares severos do GADU, mas como homem, um ser imperfeito, embora sempre a caminho da perfeição.

Suas últimas palavras foram de que “estava morrendo”, e não tínhamos o que dizer. Ele não questionou, não duvidou, foi firme, e como Mestre parecia pedir para que não nos amedrontássemos. O Mestre seguia o Ritual. Seus olhos, que depois adormeceriam ao longo dos 80 dias internados, pareciam dizer que sempre haveria um irmão a oferecer consolo. E isso veio comprovado, de imediato, de várias formas, de vários meios, e que realmente trouxeram o conforto previsto e esperad
o.

Não houve o temido abandono, e seus olhos, que não foram encerrados por um irmão, sabemos que foram de foram, de forma delicada, encerrados por aqueles que mais estavam ao seu lado, e que nos ajudaram em sua última e derradeira batalha.

A chegada do espectro da morte, prevista, e não temida pelos verdadeiros Mestres, chegou com a intimidade familiar de um “Tu”. Seu sussurro não o amedrontou, lhe trouxe a paz esperada de um dever cumprido.

E nós, que seguimos na trilha do Mestre, seguiremos o Ritual, sobre seu esquife irá nosso amor fraternal, nossos votos de uma Boa Viagem e de uma Aurora de Luz infinita pois "Não nos amedronta a morte!”.

“...
Ou coisa parecida, ou coisa parecida,
Ou coisa parecida, aparecida. Ei, moço!
E eu inda sou bem moço pra tanta tristeza.
Deixemos de coisas, cuidemos da vida,
Senão chega a morte ou coisa parecida,
E nos arrasta moço sem ter visto a vida
Ou coisa parecida, ou coisa parecida,
Ou coisa parecida, aparecida.
...”

Como ele gostaria, um brinde para nosso pai, UBYRAJARA DE SOUZA (12/01/1930-24/02/2016), um verdadeiro Mestre Maçom, tim..tim...