sexta-feira, 25 de outubro de 2019

“NINGUÉM MONTARÁ EM CIMA DE NÓS SE NÃO NOS CURVARMOS” (Martin Luther King)


S
ão vinte anos de maçonaria e pouca coisa tem me surpreendido no dia a dia de nossa Ordem, mas um fato, que não chega a ser novidade, me assustou e custo a acreditar que possa continuar ou mesmo se estender: a censura.

Censurar a imprensa, é coibir a liberdade de expressão.  É  não pregar a igualdade de valores.  E para nós, quando o fato acontece por meio de outros irmãos, é também ir contra o espírito fraterno que deveria nortear os passos de qualquer maçom. 

Não há que se falar em democracia, se a imprensa não for e não se sentir verdadeiramente livre, sem mordaças, com a garantia de poder se expressar sem censura, ameaças, pressões ou mesmo violências.  E infelizmente quando lemos num texto de nosso Irmão Jaciré Braga, frases fortes e diretas, como “não vamos parar de circular”, “calar nesse momento significa aceitar o fim da verdade maçônica” e “não vamos calar a nossa voz”, muito me preocupa o que tanto o transtornou, ou melhor, “quem o proibiu de que?”

Não por acaso, veio à minha mente uma das expressões de liberdade mais forte que conheço: NINGUÉM MONTARÁ EM CIMA DE NÓS SE NÃO NOS CURVARMOS, dita por Martin Luther King, consagrado como um dos maiores ícones na incessante luta pela liberdade e igualdade.  Sua mensagem vai de encontro com nossa Constituição, que contempla como poucos países do mundo, a plena liberdade de imprensa no país, como é possível observar no texto de seu art. 220, ou seja, "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição", sendo que em seu parágrafo primeiro complementa: "nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV".  É o direito de ser informado e também o direito de querer informar, fato que estamos tentando fazer e que esperamos possa ser “liberado pra publicação”.

As palavras de Braga foram em relação a um texto do Irmão Newton de Alcântara Filho, que comentava sobre a existência de inúmeras Lojas que sobrevivem pela teimosia de alguns abnegados irmãos, que por um motivo ou outro, ajudaram a cria-las, ao lado de dezenas de irmãos que assinaram a relação de fundadores, e que depois nunca mais voltaram, principalmente os tradicionais irmãos de Altos Cargos. E censura-lo é apenas tentar tampar o sol com a peneira. 

Participar do quadro de diversas Lojas não pode ser visto como solução para a manutenção de inúmeras pequenas Lojas. De outra forma, a ausência de um patrimônio sustentável, de um quadro fixo de obreiros capaz de fazê-las funcionar sem a colaboração de terceiros, assim como a valorização de motivos fúteis para manutenção de sua existência, somente pode interessar a aqueles que erradamente vislumbram com o aumento no número de Lojas, o que nada acrescenta aos trabalhos maçônicos, a não ser uma fictícia demonstração de expansão da Maçonaria, que assim cresce em número de Lojas, mas não em número de obreiros e muito menos na qualidade desejada.

O texto do Irmão Newton, proclama a manutenção de Lojas fortes, autônomas e parceiras, sem imposições externas, desejo incontestável da maioria dos obreiros, e chama também a atenção de que não devemos viver das glórias do passado, e que temos que aprender a pedir desculpas e reconhecer nossos erros.  Então por que haveria de se proibir a divulgação de tais idéias?   Nos parece um resquício de outras épocas em que se valorizava em demasia o “status” de ser maçom. 

Na verdade, o texto tem uma mensagem de verdade, e que tal situação é uma clara mensagem de que nossa maior necessidade é o fortalecimento da Ordem, com crescimento consciente, e unidos cada vez mais. E para tanto se faz necessário a humildade em nossas atitudes, buscar integração com a sociedade e valorizar a participação de cada um, sabendo distribuir funções e cobrando resultados. 

Por outro lado, há que se temer e evitar que idéias retrógadas de censura possam tomar força material e alcançar a Ordem que prega a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, valores desejados e batalhados pelo homem em toda a sua história. 

Diria Jean-Paul Sartre: “para conhecer os homens, torna-se indispensável vê-los agir” e somente com a divulgação de seus feitos, de forma honesta e correta, com a plena liberdade de expressão, conseguiremos conhecer as atitudes e as ações de cada um, para que dessa forma possamos até mesmo julga-los, se assim for necessário.

Aos irmãos Braga e Newton, meu apoio, meu carinho e o reconhecimento pela proposta de um trabalho em prol da Maçonaria e da liberdade de expressão, a “rainha das liberdades”, como nos disse Rui Barbosa.

(Texto de mar/2006)